Fernando Pessa

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 Nota: Não confundir com Fernando Pessoa.
Fernando Pessa
ComIHGOM
Fernando Pessa
Nome completo Fernando Luís de Oliveira Pessa
Nascimento 15 de abril de 1902
Vera Cruz, Aveiro
Morte 29 de abril de 2002 (100 anos)
Lisboa
Nacionalidade português
Ocupação Jornalista
Prémios Prémio da Imprensa (1981) Televisão
Prémio Bordalo (1993) Carreira

Fernando Luís de Oliveira Pessa ComIHGOM (Aveiro, Vera Cruz, 15 de Abril de 1902Lisboa, 29 de Abril de 2002) foi um dos mais famosos jornalistas portugueses do século XX. Convidado para a secção portuguesa da BBC, passou a viver em Londres durante a Segunda Guerra Mundial.[1]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Primeiros anos[editar | editar código-fonte]

Fernando Luís de Oliveira Pessa nasceu a 15 de abril de 1902, na freguesia de Vera Cruz, em Aveiro. Era filho de Adriano Luís de Oliveira Pessa e de sua mulher, Maria Betânia Catela de Miranda Pinto. O seu pai era médico militar e, tendo sido destacado para as colónias ultramarinas portuguesas, deixou a família em Portugal continental.[2]

Fernando Pessa viveu em Aveiro até aos dois anos. Foi em Penela, vila do distrito de Coimbra, que o jornalista recebeu a instrução primária. Fez o exame da 4.ª classe em 1911, em Coimbra, onde viveu até 1921.[3]

Concluídos os estudos secundários, em que se preparara para os exames de admissão à "Escola de Guerra", tentou o ingresso na carreira militar como oficial de Cavalaria. Porém, como resultado da Primeira Guerra Mundial, havia oficiais em excesso e só era admitido quem frequentasse o Colégio Militar de Lisboa.[3]

Antes de embarcar na carreira jornalística, trabalhou numa companhia de seguros e num banco, ainda em Coimbra, onde esteve pouco tempo. Em 1926 foi trabalhar para outra companhia de seguros, no Brasil, de onde regressou em 1934.[3]

Rádio[editar | editar código-fonte]

Edifício da BBC em Londres

Em 1934 candidatou-se aos quadros da recém criada Emissora Nacional,[2] tendo ficado classificado em segundo lugar e, como gostava de sublinhar, “sem cunhas”.[3] Iniciou, assim, uma carreira que nunca tinha pensado seguir. E assim transformou-se no primeiro locutor da Emissora Nacional.[3][4]

Com uma semana de rádio, Pessa fez a sua primeira reportagem: a cobertura de um festival de acrobacia área na antiga Porcalhota, actual Amadora, a 4 de novembro de 1936.[5][6]

Após quatro anos na Emissora Nacional, foi convidado para trabalhar na BBC, em Londres, em 1938.[3][4][7] Começou por trabalhar com sotaque na secção brasileira e só quando um colega português adoeceu foi chamado para ler o noticiário.[3][6] Neste ambiente sofreu os bombardeamentos alemães sobre Londres e se profissionalizou e notabilizou como correspondente durante a Segunda Guerra Mundial.[3][6] Tornou-se conhecido por reportar os bombardeamentos em Londres e consolidou a sua popularidade com o programa Retiro da Blitz, onde Pessa interpretava fados por ele escritos, ridicularizando a figura de Hitler e as suas investidas contra Londres, de onde se destaca Compadre Adolfo.[3][4][7][8]

A censura e a restrição das liberdades civis da ditadura de António de Oliveira Salazar acabaram por contribuir para o crescendo de popularidade das transmissões em português da BBC.[6]

Conheceu a sua esposa, Simone Alice Roufier, uma brasileira de ascendência inglesa e norte-americana, em Londres. Casou-se em 1947, no novo regresso a Portugal.[3]

No regresso a Lisboa, em 1947, a sua reentrada na rádio Emissora Nacional foi vedada por influência do regime, sendo forçado a voltar ao ramo dos seguros.[3] Nesta época também fez dobragens de filmes e documentários, nomeadamente O Último Temporal - Cheias do Tejo e Portugal já Faz Automóveis, do cineasta Manoel de Oliveira.[3] Acabou por participar do Plano Marshall de ajuda económica à Europa, quando Portugal se envolveu.[3]

Encontram-se artigos da sua autoria na revista Mundo Gráfico (1940-1941),[9] nomeadamente: "Uma guitarra na BBC" de 15 de Fevereiro de 1943 (n.º 57) e "As mãos que vêem" de 30 de Março de 1944 (n.º 84).

Apresenta 'Arco-Íris', de Francisco Mata e Jorge Alves, programa que ganhou vários prémios de Melhor Programa de Entretenimento.[10] Arco-Íris era apresentado conjuntamente com nomes como Maria Leonor, Raúl Solnado e Isabel Wolmar.[10]

Televisão[editar | editar código-fonte]

Rua Augusta, Lisboa. Foi nas pequenas reportagens sobre situações do quotidiano, principalmente da cidade de Lisboa, que a expressão “E esta, hein?” de Fernando Pessa se tornou popular

Depois da notoriedade enquanto repórter de guerra na BBC, realizou a primeira emissão em directo da RTP, em 7 de Março de 1957, na Feira Popular de Lisboa,[3] entrando para os quadros da RTP apenas a 1 de Janeiro de 1976, já com 73 anos.[3]

A célebre expressão “E esta, hein?” marcou a sua carreira como repórter televisivo. A expressão surgiu como substituto dos palavrões que tinha vontade de dizer quando denunciava situações menos agradáveis do quotidiano do país nos seus "bilhetes postais".[3] Neste contexto, era por vezes criticado por privilegiar nas suas sátiras os políticos cuja ideologia não partilhava, poupando em geral os que pudessem ser conotados com a esquerda.

Últimos anos[editar | editar código-fonte]

Continuou a trabalhar quase até morrer.

Fernando Pessa morreu a 29 de Abril de 2002, em Lisboa, poucos dias depois de completar cem anos.[2]

Homenagens e distinções[editar | editar código-fonte]

Jardim Fernando Pessa, Lisboa

Referências

  1. Revista Sábado n.º 587, 30 Julho - 5 Agosto 2015, pág. 58.
  2. a b c d e f g h i «Artigo de Apoio : Fernando Pessa». Infopédia (Porto Editora). Consultado em 1 de maio de 2014 
  3. a b c d e f g h i j k l m n o p «Fernando Pessa». NewsMuseum. 6 de abril de 2016. Consultado em 16 de março de 2023 
  4. a b c «Fernando Pessa, uma voz portuguesa em Londres». RTP Ensina. Consultado em 16 de março de 2023 
  5. «Festival aéreo da Amadora». Antena 1 - RTP. 8 de setembro de 2022. Consultado em 31 de janeiro de 2024 
  6. a b c d Ribeiro, Nelson (15 de julho de 2022). «Fernando Pessa e o Jornalismo Radiofónico: do Pioneirismo na Emissora Nacional à BBC». Livros ICNOVA. Consultado em 31 de janeiro de 2024 
  7. a b Guerreiro, Carlos (1 de julho de 2022). «Pessa, Fernando - Portugal 1939-1945». Consultado em 16 de março de 2023 
  8. «50 anos da BBC em Portugal». Consultado em 16 de março de 2023 
  9. Jorge Mangorrinha (Junho de 2014). «Ficha histórica: Mundo Gráfico (1940-1948)» (pdf). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 14 de Janeiro de 2015 
  10. a b DIAS, Patrícia Costa (2011). A Vida com um Sorriso - Histórias, experiências, gargalhadas, reflexões de Isabel Wolmar. Lisboa: Ésquilo. p. 41-43. ISBN 978-989-8092-97-7. OCLC 758100535 
  11. a b «Prémios Bordalo». Em 1981 denominado "Prémio da Imprensa". Presumida gralha "1992" para data de cerimónia de "1982". Em 1993 denominado "Prémio da Bordalo". Sindicato dos Jornalistas. 22 de janeiro de 2002. Consultado em 26 de outubro de 2017 
  12. a b «Cidadãos Nacionais Agraciados com Ordens Portuguesas». Resultado da busca de "Fernando Pessa". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 26 de outubro de 2017 
  13. «Cidadãos Nacionais Agraciados com Ordens Estrangeiras». Resultado da busca de "Fernando Pessa". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 26 de outubro de 2017 
  14. «Lisboa: Câmara inaugura hoje Jardim Fernando Pessa». Público. 15 de Abril de 2005. Consultado em 26 de outubro de 2017. Cópia arquivada em 26 de outubro de 2017 
  15. «Objectos por Freguesia : Jardim Fernando Pessa». Marcas das Ciências e das Técnica (Universidade de Lisboa). 5 de março de 2011. Consultado em 26 de outubro de 2017. Arquivado do original em 25 de maio de 2011 [ligação inativa]
  16. Jardim Fernando Pessa na base de dados SIPA da Direção-Geral do Património Cultural. Consultado em 26 de outubro de 2017

Ligações externas[editar | editar código-fonte]