Entrevista com Ana Martelo do Portal Freelancer

O que é ser Freelancer? Como ser Freelancer? Como ganhar dinheiro como Freelancer? são algumas das questões – entre outras – que se levantam quando pensamos como funciona o mundo do freelancing, e como é que esta poderá ser uma solução para escolher como aposta no futuro.

No contexto económico atual, creio que se abre uma porta para ultrapassar os obstáculos que se colocam à frente de muitos, através da aposta numa carreira como freelancer, seja num contexto temporário, ou numa perspectiva mais definitiva.

Por este motivo, e porque creio que o conteúdo pode ser útil a muitas pessoas, propus à Ana Martelo do Portal Freelancer, uma freelancer com alguns anos de experiência e conhecimento sobre o tema, que respondesse a algumas questões, sobre o mundo do freelancing.

Ana Martelo - Portal Freelancer

JR – Como começaste a trabalhar como Freelancer?

AM – Bem, ao contrário do que acontece com a maioria dos Freelancers, eu comecei a trabalhar a tempo inteiro por uma questão de necessidade. Estive empregada num jornal regional durante alguns meses que acabou por me deixar fisicamente muito abalada (até pela carga horária a que estava sujeita diariamente), por isso por questões médicas vi-me obrigada a permanecer em casa durante pelo menos 2 meses.

Como as contas não se pagam sozinhas, comecei a tentar encontrar alguns trabalhos através de colegas que tinha online, assim fui começando a ganhar portfólio, a ganhar alguns clientes e acabei mesmo por experimentar ficar a trabalhar assim durante alguns meses até estar completamente recuperada.

A verdade é que depois comecei a ganhar bastantes clientes e a optar por trabalhar exclusivamente assim, pelo menos enquanto conseguir!

JR – Achas que Freelancer pode ser uma forma de superar problemas financeiros?

AM – O Freelancer é uma excelente forma de superar a crise, tal como estamos nela neste momento, porém é importante referir que não é benéfico para ninguém interiorizar que é através do Freelancer que vai enriquecer.

Se vai optar pelo Freelancer apenas como part-time, então o melhor mesmo é nem sequer pensar muito na questão financeira, fazendo uso dela apenas como um bónus ao final do mês, ideal para aquelas compras extra que surgem sempre ou simplesmente para iniciar um bom pé-de-meia.

Agora, se o seu desejo é ajustar o Freelancer como a sua tábua de salvação da crise, o melhor mesmo é retirar essa ideia. Não que seja impossível ganhar bom dinheiro a trabalhar de forma independente, apenas é extremamente complicado de o fazer inicialmente, onde não existe uma carteira de clientes, não há conhecimento do seu serviço ou simplesmente não tem um portfólio para mostrar aos interessados.

JR – É possível ganhar um bom ordenado como Freelancer?

AM – Se é um excelente profissional na área, se sabe vender o seu produto e a sua imagem aos possíveis clientes e se sabe lidar muito bem com os clientes que lhe vão surgindo ao longo da carreira, então é extremamente possível ganhar um bom ordenado como Freelancer.

Porém, é importante lembrar a máxima “Se não se mostrar, ninguém sabe de si”, isto é, se os clientes não souberem da sua existência, nunca poderão optar pelos seus serviços para satisfazer as suas necessidades, por isso seja um óptimo vendedor e faça chegar até ao máximo de público possível a sua lista de serviços, o seu portfólio e até os antigos clientes.

JR – Como coordenar uma atividade Freelancer com um emprego a full-time?

AM – Esta é uma situação bastante complicada, até porque como já referi anteriormente, o Freelancing implica alguma dedicação intensa, para dar a conhecer o seu trabalho e chegar aos clientes. No entanto não é impossível, desde que saiba gerir muito bem o seu tempo, delinear muito bem quais são e quantas são as horas que vai dedicar ao Freelancer, consegue perfeitamente conciliar as suas atividades e ainda ter tempo para os tempos livres e para conviver com a sua família.

O mais provável é que nos primeiros meses vai perder completamente a noção do tempo, chegando a casa e terminando trabalhos que ficaram do dia anterior para concluir, esquecendo-se assim da família, dos amigos e até dos seus afazeres domésticos. No entanto, com o passar do tempo e com o factor chave do Freelancer – a organização – vai conseguir restringir muito bem o seu tempo para o Freelancer.

JR – Qualquer pessoa pode trabalhar como Freelancer? O que é preciso?

AM – Nos dias que correm sim, pelo menos na minha opinião. Dependendo da área de actuação, vai necessitar de diversas ferramentas.

No que diz respeito às áreas ligadas às Tecnologias de Informação, o mais provável é que necessite apenas de um computador pessoal com ligação à Internet e o software necessário para o seu trabalho. Porém, existem algumas áreas de atuação que são necessárias outras ferramentas, como é o caso da Fotografia ou mesmo o Design.

Nestes casos, qualquer pessoa, desde que tenha o material necessário, pode trabalhar como Freelancer. Agora falando em termos legais, para trabalhar como Freelancer em Portugal é necessário passar um recibo pelo serviço prestado e para isso é necessário estar colectado nas Finanças como Trabalhador Independente.

JR – A Internet veio mudar para melhor ou pior o Freelancing?

AM – Os dois. A Internet veio ajudar e estragar muitas áreas de emprego, não só na questão Freelancer como em todas as outras, se não vejamos: com a facilidade de acesso à Internet hoje em dia é possível fazer praticamente tudo através da mesma, desde compras a pagamentos, a requisição de serviços e até prestação de serviços, vindo assim a facilitar muito a vida de todos, mas dificultando algumas áreas de trabalho que deixaram de necessitar de tantos profissionais.

Nomeadamente na área do Freelancer, veio facilitar a forma como o cliente contacta o profissional, ajudando na escolha através do portfólio online ou simplesmente no contacto do mesmo por e-mail. A entrega dos trabalhos e até a rapidez com que esta é feita veio igualmente facilidade o Freelancer, já que agora não é necessário perder imensos dias num mês para mostrar provas a clientes. Porém, com a massificação da Internet e com a necessidade das pessoas gerarem mais dinheiro, surgem muitos “freelancers” que não trabalham de forma legal, praticando preços completamente ridículos e que acabam por estragar o mundo comercial, não que os seus serviços sejam maus, mas dada a situação económica que se vive, os clientes vêm-se obrigados a escolher conforme o orçamento e não o objectivo final.

JR – O que é bom e mau em trabalhar como Freelancer?

AM – O Freelancer tem inúmeras vantagens e desvantagens. As vantagens, são lógicas, até porque apenas o facto de trabalhar na sua própria casa é uma excelente vantagem, podendo ter tudo o que necessita ao seu lado. O facto de trabalhar na sua área de eleição é também uma excelente vantagem, pois ninguém inicia um processo de Freelancer numa área em que não se sinta à vontade e com conhecimento de causa, se não o sucesso é algo que nunca vai conseguir alcançar.

Porém, como é natural, existem algumas desvantagens que tornam o Freelancer inacessível para algumas pessoas. Nomeadamente a questão horária, ou melhor, a falta dela, é algo que pode vir a afectar fisicamente e até profissionalmente qualquer Freelancer. A não obrigação de manter um horário fixo, podendo até levar a optar por horários diferentes do normal, pode vir a desgastar a sua saúde e sem saúde ninguém consegue trabalhar.

Outra das situações menos boas do Freelancer é a insegurança financeira que vive. Dado que o Freelancer depende exclusivamente dos clientes que lhe pedem algum tipo de serviço, o mais natural de ocorrer são meses completamente distintos, uns cheios de trabalho e que chegam mesmo a ser insuportáveis, e outros sem qualquer tipo de projeto, levando a uma situação instável financeiramente.

Agora falando na questão legal, financeira e até de pagamentos, temos a grande desvantagem do pagamento das taxas aos serviços nacionais, como é o caso da Segurança Social. Qualquer Freelancer que trabalhe exclusivamente como independente tem que fazer os seus descontos para a Segurança Social, o que em termos legais em nada é incorreto, no entanto pensando na questão Freelancer (lembrando a situação financeira instável), logo se percebe que este pagamento pode vir mesmo a traduzir-se num problema mensal que muitos Freelancers não conseguem ultrapassar. Em termos práticos, depois do primeiro ano com recibos verdes em que o Freelancer está isento, as taxas aplicadas têm que ser pagas, independentemente se o Freelancer consegue ou não trabalho nesse mês.

JR – Se tivesses de começar do zero, o que farias e como?

AM – Infelizmente um dos meus grandes defeitos é não pensar muito no futuro, isto é, não planear as coisas com uma grande distância temporal. Por isso, se tivesse que começar tudo do zero, o mais provável é fazer tudo como fiz, com bastante calma, alguma segurança e tentar ao máximo aumentar a minha carteira de clientes, já que são estes que me colocam o comer na mesa para eu comer.

JR – Dicas essenciais para ser bem sucedido como Freelancer?

AM – Podia estar aqui o resto do dia a deixar algumas dicas para trabalhar como Freelancer, mas nenhuma delas ia ser suficiente para quem está a começar conseguir alcançar o sucesso sem esforços.

Qualquer Freelancer bem sucedido tem um enorme esforço por trás, através da construção da própria carreira e do sucesso deste junto dos clientes. Um bom Freelancer tem que saber vender “o seu peixe”, isto é, saber vender o seu conhecimento, o seu produto final e até o seu preço. Falar com vários tipos de pessoas é algo que vai estar habituado a fazer, porém há sempre clientes menos bons e mais complicados, que devem ser tratados de igual forma como os outros, por isso esta é outra das áreas em que o Freelancer tem que saber lidar muito bem.

Não encarar o sucesso como um dado adquirido é extremamente importante para conseguir alcançar os seus objectivos, já que a vida de Freelancer é algo inconstante, o mais provável é que hoje tenha imenso sucesso e amanha, por algum motivo, perca todo esse sucesso e tenha que recomeçar do novo. Assim, encare cada dia como um apenas, tentando ultrapassar os seus objectivos e a forma como trabalhou no dia anterior.

O conhecimento constante e a aprendizagem contínua é igualmente essencial para conseguir ser bem sucedido no Freelancer, já que há sempre algo a aprender, é importante que o Freelancer se distinga de todos os outros, não só pela técnica, pela sabedoria e também pelo conhecimento intrínseco que possui.

Agradecimento e Questões

Naturalmente, quero agradecer à Ana a sua disponibilidade e empenho que mostrou a responder às questões que lhe coloquei, e deixo aqui o convite a todos os leitores e assinatantes, que tenham curiosidade em saber algo sobre freelancing, a deixarem a sua questão nos comentários, que a Ana se disponibiliza a responder.

Os interessados não deixem também de visitar o Portal Freelancer!